Num.° 16 Anónimo (Bento Morganti) Moralische Wochenschriften Klaus-Dieter Ertler Herausgeber Hans Fernández Herausgeber Elisabeth Hobisch Mitarbeiter Pascal Striedner Mitarbeiter Sarah Lang Gerlinde Schneider Martina Scholger Johannes Stigler Gunter Vasold Datenmodellierung Applikationsentwicklung Institut für Romanistik, Universität Graz Zentrum für Informationsmodellierung, Universität Graz Graz 04.10.2018 o:mws.7024 Anónimo (Morganti, Bento): Quarta Collecçam dos Papeis Anonymos. Lisboa: Pedro Ferreira, 1754, 25-31 O Anonymo. Repartido pelas semanas, para divertimento e utilidade do publico 4 016 1754 Portugal Ebene 1 Ebene 2 Ebene 3 Ebene 4 Ebene 5 Ebene 6 Allgemeine Erzählung Selbstportrait Fremdportrait Dialog Allegorisches Erzählen Traumerzählung Fabelerzählung Satirisches Erzählen Exemplarisches Erzählen Utopische Erzählung Metatextualität Zitat/Motto Leserbrief Graz, Austria Portuguese Wissenschaft Scienza Science Ciencia Sience Ciência Sitten und Bräuche Costumi Manners and Customs Costumbres Mœurs et coutumes Costumes e Tradições Portugal -8.13057,39.6945

N. 16 Continua a mesma materia.

Huma das cousas mais nobres, e mais antigas que ha na Bazilica de Santa Maria he o antigo sino do Relogio, mandado fazer por ordem do Senhor Rey D. Fernando, e do Cabido da mesma Igreja. He cercado com tres circulos de Letras Goticas bastantemente damnificadas, e nos vãos que ficam entre os letreiros tem diversas armas da mesma sorte consumidas do tempo, e alguns sellos igualmente arruinados, que tudo por insinuaçam superior, se reduzio á forma que vay neste papel, e com a mayor exacçaõ que foi possivel. No tempo do Cabido extincto sendo Cartorario delle o M. R. Conego sogeito certamen-te estimavel pela sua grande curiozidade, e inteligencia, se fizeram varios exames no mesmo sino, para se saber a Era em q̃ foi feito, e por quem havia sido colocado na mesma Igreja, e ainda no tempo prezente se continuaram alguns exames, mas todos infructuozos, que como a Naçam naõ he inclinada ao exame de antiguidades, faltando a pratica, he impossivel o conhecimento de muitas coizas antigas; pois se nam se desprezasse o estudo dellas, quem o tivesse, logo pelas moedas do Rey D. Fernando havia de conhecer (sem que fosse necessario ler os letreiros) que o sino fora ordenado por elle, porque se acha a forma da sua firma, ou a firma que costumava mandar gravar nas suas moedas: mas como neste Reyno se naõ faz cazo de semelhante estudo, e muito menos das pessoas applicadas a elle, julgãdo-se por menos necessario, e quasi inutil, por esta cauza ficaraõ muitas couzas sem se saber a sua origem, e assim cuido se continuarà para o futuro, em outras muitas que prezentemĕte se conservam, porq̃ entendo que a Naçam mudará de genio. Isto nam he negar absolutamente que Portugal teve sogeitos muito bons antiquarios, que com exacto trabalho examinaraõ inscripçoens de todo o genero, como foram o grande Rezende, Gaspar Estaço, Luis Marinho, Manoel de Faria e Souza, o Chantre Manoel Severim de Faria, e outros muitos, cujos escritos se fazem veneraveis, pela erudiçam de que se acham cheyos, mas a disgraça he que servindo elles para os prezĕtes de objecto de seus elogios, nenhum delles basta para lhe convidar os animos para a imitaçam; porque quasi todos fogem de semelhante emprego, que se estima pouco, e custa muito. Todos os antigos passaram pelo mesmo descomodo, e por isso será sempre venerada pelos Doutos a sua memoria com a mesma porporçam que respeitam seus escritos. Tudo pode o tempo: acabou aquelles Heroes da applicaçaõ, e estudo de couzas antigas, e com elles extinguio tambem o gosto de semelhante estudo.

Eu porem ainda que muito inferior nam só nesta materia, mas tambem em todas as que dizem respeito a ciencias nam só áquelles venerandos sabios dos passados seculos, mas ainda aos escriptores, e doutos do prezente tempo, com tudo atè donde pode chegar a limitada esfera da minha capacidade, sempre procurey aplicarme a este genero de estudo, e fis tudo aquelle que me foy possivel para o conhecimento, e inteligencia de couzas antigas, assim em Medalhas, e Moedas, como em Inscripçoens examinando como paciencia, e trabalho os caracteres daquelle tempo, por meyo de cuja applicaçaõ, tive a felicidade de po-der averiguar nam só as inscripçoens que cercam o sino, mas tambem as marcas, e sellos que nelle se acham, o que tudo copiei na forma em q̃ estam escriptas, e gravadas; e como isto foi hum trabalho q̃ tomei involuntario, do qual nunca maes houve lembrança, quero agora produzillo ao publico, por estar jà feito, para que ao menos me devam os tempos futuros deixarlhe clareza desta memoriaNota: Editor: Neste lugar, o texto contém uma imagem que não podemos incluir nesta edição..

Tem o sino de altura até as prezilhas sete palmos, e polgadas huma, e meya. De diametro pela parte exterior, oito palmos, e polgadas huma, e meya. De diametro pela parte interior, seis palmos, e polgadas sinco (sic). E de circunferencia pela parte exterior, vinte e quatro palmos, e meyo.

O primeiro letreiro junto às prezilhas he na forma seguinte

Primeiro letreiro.

Sxe Mtanipana dicuntur como da sana laudo Deum verum voco populum congregeo clerum defunctos ploro stham fvg o festo decoao

Ainda que estes caracteres goticos depois de averiguados no seu original naõ sam dos maes difficultozos, com tudo sempre me pareceo bem reduzilos aos Romanos, para ficar mais facil a sua liçam, suposto haver algumas dicçoens inconciliaveis, e outras truncadas; e dis este primeiro letreiro.

Sxe mtanipana dicuntur comoda sana laudo Deum verum voco populum congregoclerum defunctos ploro satham fugo festa de coro.

Diz o segundo letreiro.

Angele qui meus es custos pietate superna me tibi comi sum sana defende guberna menten santam spon taneam honorem Deo et Patriae liberationem

Angele qui meus es custos pietate superna me tibi comissum salva defende gubernamentem sanctam spontaneam honorem Deo, Patriae liberationem.

Terceiro letreiro.

Enna era de mil III. CCC.E. XV annos foy feyto este sino do relogio muynobecidade de Lisboa por mandado do muy nobre Rey Dom Fernando de Portuga et domuyto honrado cabido da dicta cidae del Ixboa x dos homes boos dacta cidademartre Joham frances me fiz

Em a Era de mil trezentos, e quinze annos foi feito estes sino do Relogio em a muy nobre Cidade de Lisboa por mandado do muy nobre Rey Dom Fernando de Portugal, e do muy honrado Cabido de dita Cidade de Lisboa dèz homens bons desta Cidade Mestre Joam Frances me fez.

N. 16 Continua a mesma materia. Huma das cousas mais nobres, e mais antigas que ha na Bazilica de Santa Maria he o antigo sino do Relogio, mandado fazer por ordem do Senhor Rey D. Fernando, e do Cabido da mesma Igreja. He cercado com tres circulos de Letras Goticas bastantemente damnificadas, e nos vãos que ficam entre os letreiros tem diversas armas da mesma sorte consumidas do tempo, e alguns sellos igualmente arruinados, que tudo por insinuaçam superior, se reduzio á forma que vay neste papel, e com a mayor exacçaõ que foi possivel. No tempo do Cabido extincto sendo Cartorario delle o M. R. Conego sogeito certamen-te estimavel pela sua grande curiozidade, e inteligencia, se fizeram varios exames no mesmo sino, para se saber a Era em q̃ foi feito, e por quem havia sido colocado na mesma Igreja, e ainda no tempo prezente se continuaram alguns exames, mas todos infructuozos, que como a Naçam naõ he inclinada ao exame de antiguidades, faltando a pratica, he impossivel o conhecimento de muitas coizas antigas; pois se nam se desprezasse o estudo dellas, quem o tivesse, logo pelas moedas do Rey D. Fernando havia de conhecer (sem que fosse necessario ler os letreiros) que o sino fora ordenado por elle, porque se acha a forma da sua firma, ou a firma que costumava mandar gravar nas suas moedas: mas como neste Reyno se naõ faz cazo de semelhante estudo, e muito menos das pessoas applicadas a elle, julgãdo-se por menos necessario, e quasi inutil, por esta cauza ficaraõ muitas couzas sem se saber a sua origem, e assim cuido se continuarà para o futuro, em outras muitas que prezentemĕte se conservam, porq̃ entendo que a Naçam mudará de genio. Isto nam he negar absolutamente que Portugal teve sogeitos muito bons antiquarios, que com exacto trabalho examinaraõ inscripçoens de todo o genero, como foram o grande Rezende, Gaspar Estaço, Luis Marinho, Manoel de Faria e Souza, o Chantre Manoel Severim de Faria, e outros muitos, cujos escritos se fazem veneraveis, pela erudiçam de que se acham cheyos, mas a disgraça he que servindo elles para os prezĕtes de objecto de seus elogios, nenhum delles basta para lhe convidar os animos para a imitaçam; porque quasi todos fogem de semelhante emprego, que se estima pouco, e custa muito. Todos os antigos passaram pelo mesmo descomodo, e por isso será sempre venerada pelos Doutos a sua memoria com a mesma porporçam que respeitam seus escritos. Tudo pode o tempo: acabou aquelles Heroes da applicaçaõ, e estudo de couzas antigas, e com elles extinguio tambem o gosto de semelhante estudo. Eu porem ainda que muito inferior nam só nesta materia, mas tambem em todas as que dizem respeito a ciencias nam só áquelles venerandos sabios dos passados seculos, mas ainda aos escriptores, e doutos do prezente tempo, com tudo atè donde pode chegar a limitada esfera da minha capacidade, sempre procurey aplicarme a este genero de estudo, e fis tudo aquelle que me foy possivel para o conhecimento, e inteligencia de couzas antigas, assim em Medalhas, e Moedas, como em Inscripçoens examinando como paciencia, e trabalho os caracteres daquelle tempo, por meyo de cuja applicaçaõ, tive a felicidade de po-der averiguar nam só as inscripçoens que cercam o sino, mas tambem as marcas, e sellos que nelle se acham, o que tudo copiei na forma em q̃ estam escriptas, e gravadas; e como isto foi hum trabalho q̃ tomei involuntario, do qual nunca maes houve lembrança, quero agora produzillo ao publico, por estar jà feito, para que ao menos me devam os tempos futuros deixarlhe clareza desta memoriaNota: Editor: Neste lugar, o texto contém uma imagem que não podemos incluir nesta edição.. Tem o sino de altura até as prezilhas sete palmos, e polgadas huma, e meya. De diametro pela parte exterior, oito palmos, e polgadas huma, e meya. De diametro pela parte interior, seis palmos, e polgadas sinco (sic). E de circunferencia pela parte exterior, vinte e quatro palmos, e meyo. O primeiro letreiro junto às prezilhas he na forma seguinte Primeiro letreiro. Sxe Mtanipana dicuntur como da sana laudo Deum verum voco populum congregeo clerum defunctos ploro stham fvg o festo decoao Ainda que estes caracteres goticos depois de averiguados no seu original naõ sam dos maes difficultozos, com tudo sempre me pareceo bem reduzilos aos Romanos, para ficar mais facil a sua liçam, suposto haver algumas dicçoens inconciliaveis, e outras truncadas; e dis este primeiro letreiro. Sxe mtanipana dicuntur comoda sana laudo Deum verum voco populum congregoclerum defunctos ploro satham fugo festa de coro. Diz o segundo letreiro. Angele qui meus es custos pietate superna me tibi comi sum sana defende guberna menten santam spon taneam honorem Deo et Patriae liberationem Angele qui meus es custos pietate superna me tibi comissum salva defende gubernamentem sanctam spontaneam honorem Deo, Patriae liberationem. Terceiro letreiro. Enna era de mil III. CCC.E. XV annos foy feyto este sino do relogio muynobecidade de Lisboa por mandado do muy nobre Rey Dom Fernando de Portuga et domuyto honrado cabido da dicta cidae del Ixboa x dos homes boos dacta cidademartre Joham frances me fiz Em a Era de mil trezentos, e quinze annos foi feito estes sino do Relogio em a muy nobre Cidade de Lisboa por mandado do muy nobre Rey Dom Fernando de Portugal, e do muy honrado Cabido de dita Cidade de Lisboa dèz homens bons desta Cidade Mestre Joam Frances me fez.