Marcelino Marques de Barros an Hugo Schuchardt (03-00537)

von Marcelino Marques de Barros

an Hugo Schuchardt

Lissabon

05. 07. 1885

language Portugiesisch

Schlagwörter: Publikationsversand Übersetzung Gleichnis vom verlorenen Sohn Verlust von Korrespondenzlanguage Portugiesischbasierte Kreolsprache (Kapverdische Inseln)language Portugiesischbasierte Kreolsprache (Guinea Bissau) Cordeiro, Luciano

Zitiervorschlag: Marcelino Marques de Barros an Hugo Schuchardt (03-00537). Lissabon, 05. 07. 1885. Hrsg. von Silvio Moreira de Sousa (2015). In: Bernhard Hurch (Hrsg.): Hugo Schuchardt Archiv. Online unter https://gams.uni-graz.at/o:hsa.letter.2779, abgerufen am 28. 03. 2024. Handle: hdl.handle.net/11471/518.10.1.2779.


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Ill.mo E.mo Sr. Doutor

Quando recebi a ultima de carta de VE.cia cahi doente; ainda assim respondi aos questionarios de VE.cia que só aqui em L.a pude vir concluir. 1

Vim da Guiné em maio com licença para tratar aqui a m.a deteriorada saude. Fallei ha poucos dias com o Sr. Luciano Cordeiro[,] Secretario da Sociedade de Geogr. de Lisboa[,] que me encarregou de dizer a VE.cia que os escriptos que eu lhe enviára da Guiné p.a VE.cia tinham desapparecido na confusão de seus papeis, e que pedia mui sinceras desculpas.

Agora como estou em L.a até o mez de Novembro sinto uma grande satisfação em escrever directamente a VE.cia e por ver que a distancia se acha m.to reduzida – Enquanto |2| tiver alguma saúde pode VE.cia contar com o fraco prestimo deste criado de VE.cia muito dedicado. Vae pelo Correio o n.º 4/5 de 23 de junho passado do Jornal das Colonias.

Pelo Sr. Botelho2 de S. Vicente enviára a VE. cia a Fabula do Filho Prodigo, e agora acabo de saber pelo S r. Adolpho Coelho3 que sou um pouco livre nas traducções, o que não convem. Não cairei noutra.

As m.as melhoras são ainda pouco sensíveis, e custa-me m.to escrever – Sinto por isso não poder ser desta vez mais extenso como m.to desejava. E creia-me

VE.cia

seu m.or as.o alg. m

Marcellino Marques Barros
Lisboa 5 de
Julho 1885

PS Inclusas vão mais 4 folhas de papel pequeno escriptas – Vocabulos e Versos de Mondé

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Dignando-se VE.cia escrever-me poderá mandar pôr no subscripto esta direcção

Pe. Marcellino Marques de Barros – Hospicio da Guia à Mouraria

Lisboa

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Cojjête Jangá

por Mondé

Vejam somente

Ojjanama

Cojjete

Cojjiti ojjanamá

Meu parente na tribo Có

Parente nam Col

Ostentou-me os seus cadilhos e passou

Roncam cadijjo é passa

Elle foi á Casa-Nova

E bá Cassa-Noba

Se eu não volto o ros

Sêm-ca jjenghê rosto

Furar-me-hia os ólhos

E ta furam(ba) âjjo

Accendam-lhe os pharoes

Bós cendel candêa

Ó de Palhabote

Palabote âo

Eu transformar-me-hia em teinha de mar

Emta bidâ tenha d’mar

Para eu ver Jangá

Pam jjobé’ Janga

Eu jogaria o peito com o mar

Em-ta jjoga(ba) pêto cô-mar

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Cojjete-Jangá, mancebo, amante e parente da poetisa Mondé da Ilha de Bissau, floreceu em 1860 em diante. Cojjiti só na poesia.

namá ou nam, somente Cól po , tribu papel com este appelido[.]

roncam de roncá-m’ (me) fazer ostentações

Cadijjo do portug. cadilho “Quem tem filhos tem cadilhos” As tangas dos mancebos são de pano branco ou anilado e guarnecidas de cascaveis e fimbrias m.to bastas e m.to longas: cobrem todas as partes pudendas.

Cassa-Bóba feitoria de João Marques de Barros na ilha de Bolama[.]

jjenghê de origem papel: affastar. “Palméra q’ jjenghê ê-ca fáss de caê” neste sentido sig. estar inclinado. Palmeira inclinada não cahe facilmente[.]

Furam na poesia por ta-furámba[.]

Palabote-Bissau da marinha de guerra portug.

pôss na poesia e em dialecto culto por poder que tambem dizem jjogá por lutá cô-már[.]

mar, o r final ouve-se sempre bem nos substantivos puros: cojjer por colher; e ás vezes dobram-no[,] exempl. Norr por Nor (Norte)[.]

bidâ de virá, virar, transformar |5|

jjôbê provavel.te corrupção de corrupções do portug. olho-ver, olho-vê se formaria olhôbe, deste ‘lhobê, e deste ‘jjôbê pela invariavel transformação de lh para jj - O lh não existe nos dialectos de Cabo Verde e da Guiné nem nas linguas de Senegambia: entende-se, na linguagem das pessoas que não fallam o portuguez ou que nunca entraram numa escola. Levam mezes para aprender a pronunciar malmente nas escolas v, lh, z, j, x porque trocam sempre v por b; lh por jj; z por ss e alguns por x e o x por ss (!) o j por jj e nem todos podem pronunciar rapidamente o ga e va: o bujagó diz cáto por gato, e o mandinga não póde dizer vas porque ha de pronunciar sempre bax ou wax - O ch é coisa q. não existe: é uma representação falsa do ch galego em chumbo que por causa das duvidas costumo escrever com sch equival a uma sublinhação. O dj, outro engano no bantu pela impossibilidade de uma unica emissão de voz com aquellas 2 consoantes como se faz em gi de giorno ital., prefiro o jj com sublinhação:

Bolama 25 de Fev.° 1885


1 Dazu liegen keine Informationen vor.

2 Wahrscheinlich handelt es hier um Joaquim Vieira Botelho da Costa (1824-1898), der auch mit Schuchardt korrespondierte.

3 Adolfo Coelho (1847-1919) korrespondierte auch mit Hugo Schuchardt.

Faksimiles: Universitätsbibliothek Graz Abteilung für Sondersammlungen, Creative commons CC BY-NC https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/ (Sig. 00537)