João Gomes Ferreira an Hugo Schuchardt (01-03853) João Gomes Ferreira Silvio Moreira de Sousa Institut für Sprachwissenschaft, Karl-Franzens-Universität Graz Zentrum für Informationsmodellierung - Austrian Centre for Digital Humanities, Karl-Franzens-Universität Graz GAMS - Geisteswissenschaftliches Asset Management System Creative Commons BY-NC 4.0 2022 Graz o:hsa.letter.1302 01-03853 Hugo Schuchardt Archiv Herausgeber Bernhard Hurch Karl-Franzens-Universität Graz Österreich Steiermark Graz Karl-Franzens-Universität Graz Universitätsbibliothek Graz Abteilung für Sondersammlungen 03853 João Gomes Ferreira Papier Brief 7 Seiten Dili 1885-11-03 Hugo Schuchardts wissenschaftlicher Nachlass (Bibliothek, Werkmanuskripte und wissenschaftliche Korrespondenz) kam nach seinem Tod 1927 laut Verfügung in seinem Testament als Geschenk an die UB Graz. Silvio Moreira de Sousa 2013 Die Korrespondenz zwischen João Gomes Ferreira und Hugo Schuchardt Hugo Schuchardt Archiv Bernhard Hurch

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Hugo Schuchardt Archiv

Das Hugo Schuchardt Archiv widmet sich der Aufarbeitung des Gesamtwerks und des Nachlasses von Hugo Schuchardt (1842-1927). Die Onlinepräsentation stellt alle Schriften sowie eine umfangreiche Sekundärbibliografie zur Verfügung. Die Bearbeitung des Nachlasses legt besonderes Augenmerk auf die Erschließung der Korrespondenz, die zu großen Teilen bereits ediert vorliegt, und der Werkmanuskripte.

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João Gomes Ferreira Dili 1885-11-03 Hugo Schuchardt Timor-Leste Dili Dili 125.57361,-8.55861 Korrespondenz João Gomes Ferreira - Hugo Schuchardt Korrespondenz Sprachprobe Sprachen auf Timor Tetum Portugiesisch (Timor) Wissenschaft Sprachwissenschaft Brief Portugiesisch
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Exc.mo S.nr Dr Schuchardt Timor Dilli 3 de novembro de 1885

Em vista da reiteração do pedido de VExc.ia para obter ao menos alguns especimens da lingua portugueza fallada em Timôr, e não obstante as minhas muitissimas occupações, vou vêr se posso d'algum modo satisfazer ao louvavel empenho de V.Exc.ia

Primeiramente o = portuguez da praça de Dilli =, a que V.Exc.ia allude suppondo, talvez por informação do S. José dos Santos Vaquinhas José dos Santos Vaquinhas (Major und Gouverneur von Timor zwischen 1881 und 1882) korrespondierte ebenfalls mit Schuchardt [Korrespondenzpartner: 394]., que os indigenas aqui residentes fallam tal lingua é um falso supposto.

Na ilha de Timor falla-se um numero espantoso de linguas, parecendo-me que na maxima parte se derivam do malaio, mas a lingua portugueza fallam-na tão sómente os europeus portuguezes que aqui vivem[.]

Na praça de Dilli falla-se a lingua = Tetum =, que é para assim dizer a lingua official de Timor inteiro, pois que em todos os reinos se encontra alguem que a saiba[.] Nós os missionarios para exercermos o nosso ministerio precisamos de aprender a lingua local. Ha contudo muitos indigenas (e na praça quasi todos) que intendem mais ou menos a lingua portugue[s]a e a fallam estrupiadamente, não uns com os outros, mas quando conversam com os europeus e tambem ás vezes 'nalgum jantar de festa[.] Ora, deste portuguez corrompido, a que se não pode chamar lingua da praça, posso eu dar alguns esclarecimentos a V.Excia. Assenta este modo de fallar o portuguez corrompido 1.o na construcção da lingua indigena á qual os timorenses não instruidos subordinam o portuguez, 2.o na má concordancia de genero e numero, porque na lingua do paiz a differença de genero só subsiste nos nomes de animaes e ainda assim só se conhece pelo accrescentamento d'uma particula que significa = pae, mãi, homem, mulher =, e a differença de numero só se conhece pelos numeraes um, dois etc ou pelas particulas = muitos, elles = que se juntam ao nome; 3.o na má pronuncia.

Exemplos: Lingua indigena Portuguez corrompido De quem é este cavallo?= Sé nia cuda né-e De quem são este cavallo?ou = quem sua este cavallo? É do Governo. = Estado ni nia Estado sua. Eu quero comprar os bufalos de Antonio }= Hau hacarac sóssa Antonio nia caráu - Eu quer compra Antonio essa bufalo. Eu quero ser christão, mas não sei doutrina } Hau acarac sarani, mas hau l'ai hateu oraçáo Eu quer christão (eu quer baptisa) mas não sabe oração. Vem cá = Láhu mai iha né-e = Anda bem aqui Vai acolá = Lahu bá iha né-e bá = Anda bai alá. Traz cá esse cópo = Hodi copo né-e mai = Traz esse copo bem.
Põe lá dentro este livro. Tau surat né-e iha saran né-e bá Bóta lá na dentro este livro. Montado a cavallo vou em 8 minutos a Lahane Hau sahe cuda, bá tó iha Lahane iha minuto uálo. Eu monta cavallo vai na Lahane 8 minuto. Eu queria ir a Lahane visitar a V.Rev.mo, mas tenho muito mêdo d'aquelle seu cão grande. Hau, Nai-lulic, hacárac atu bá iha Lahane, mas ássu ida né-e bóte Nailulic ni mia hau hametauco bóte. Olhe, Senhor padre, eu quer vai Lahane visita vosso reverendissimo, mas aquelle Senhor padre sua cão grande eu mêdo tanto. Que estás a fazer?Nada – O' hallo sá ida?Lai Tu faze que cousa?Não. Porque te estás a rir?Por nada O hamnassa nú sa?Lai Tu ri porque?Não. De quem é o chapéo?É meu Sé nia taca-ullum?Hau nia O chapéo de quem são?ou = quem sua!mim sua. O pôrco está gôrdo Fahi bócur = pôrco tem gôrdo A porca está prenhe Fahi-inan cabum bóte (ou) = cabuc ôna porca tem barriga. Vai buscar o cavallo Bá dada cuda mai Vai traz cavallo Vai buscar a égoa Bá dada cuda-inam hódi mai Vai traz égò = ou = cavallo mulher. O meu sombreiro não presta Hau-nia sombreilo la diac minha sombreilo nunca bom. Não é bom ir áquella casa. Queta bá iha uma né-e bá – Vós vai áquella casa nunca bom. Marche (imperativo) Lahu- bá Anda bai.

Por estes poucos exemplos que ahi ficam, e que V.Exc.ia poderá examinar comparando o portuguez corrompido com o tetum, vê-se claramente que esse modo de fallar é mais ou menos a traducção á letra do mesmo tetum. E em todo caso não constitue uma lingua – Em Macau dá-se uma cousa inteiramente differente: os Macaistas fallam o portuguez corrompido, mas é essa a lingua d'elles. Não têem outra.

Em Timor pelo contrario falla-se = o tetum na praça ¢Vermutlich eine Abkürzung für como. noutros reinos do interior; o Gallóli em Manatuto, Laleia, Vérnasse etc; o Cairui em Cairui e Laline; o maca-sai em Fatumaca, Seixal, Laga etc; o uaimá em Baucau, Bocóli, Bercoli etc; o midique em Vinilale etc; o dagadá em Faturó, Saráu etc; o tóco em Liquiçá, Olmera etc; o mambai em Caimauco, Turiscãe etc; o bunac em Lamaquitos etc; o vaquino em Ocussi, Ambens etc, o Quémac em Caitaco, Diribate, Cotubaba etc, o idá em Laclubar, Funar etc; o naunuqui falla-se 'nalgumas montanhas de leste; o nauéti em Véssôro, Uaitami etc etc etc etc

Todas estas linguas e ainda outras que não menciono são as que se fallam em Timor: e 'nalgumas das referidas localidades ha um ou outro individuo que intende o portuguez e que o falla, cada um a seu modo. Ora na praça, como ha mais contacto com os europêus quasi todos intendem e fallam o portuguez, uns melhor outros peór. D'alguns authographos que tomo a liberdade de offerecer a V.Exc.ia melhor se poderá vêr a verdade do que deixo dito[.]

Ha mais a notar o seguinte: Quando se dá um acontecimento notavel entre os timôres, elles em regra têem furôr de historiar em verso (na sua lingua) esse acontecimento; e ás vezes apparece um ou outro versejador em portuguez seu... O resultado é sempre uma salsada impossível de se comprehender, e sem merecimento algum real. Mas entre elles os taes versos são muito apreciados, cantando-os nas suas danças (eloivés)[.]

Mais: Os timores apropriaram á sua lingua muitas palavras portuguesas. A este numero pertencem: 1.o os nomes que representam objectos desconhecidos d'elles antes da vinda dos Portuguezes aqui: ex: = copo, cadeira, mesa, queijo, garfo, manteiga, sino, roda, carreta, pão, vacca, candieiro, sellim, freio, etc etc. – Exceptuam-se as palavras cuja significação se pode exprimir na lingua do paiz por mais de duas palavras: ex: = a palavra chapéo exprime-se em tetum pela palavra composta = taca-ulum que significa cobre-cabeça: e tambem sapato se exprime pela = ain-fatim, que quer dizer logar do pé; e

2.o Os nomes que representam ideias abstractas, ex: côr, maldade, dignidade, pressa, ancia, etc.

26 de Novembro

Ficou esta carta interrompida desde o dia em que comecei até hoje; e para não perder a mala d'este mez vou terminal-a, reservandome para outra occazião de menos occupações mandar uma lista (que só muito devagar poderei ir fazendo) dos termos portuguezes usados só neste paiz, taes como: jambata (ponte), pagar (cebe, cîrco de madeira para tapar os quintaes) etc.

V.Exc.ia terá bondade de me avisar se tal lista lhe é util ou não ao trabalho que tem entre mãos.

Sou com a maxima consideração e respeito De V.Exc. ia m.to att.o servo em Christo P. e João Gomes Ferreira , Vigario Geral e Superior das missões de Timor

Significação das palavras indigenas empregadas nos exemplos da minha carta:

Sé = quem ualo = oito Nia = elle, ella, seu, sua, etc. Nai = Senhor Cuda = cavallo Lulic = Sagrado, que se não pode tocar. Né-e = este, aqui Nai-lulic = Padre Estado = Estado, governo. Atu = para Ni nia = d'elle, d'ella Assu = cão Hau = Eu Ida = um Hacarac = querer bóte = grande Sossa = comprar Hametauco = mêdo Caráu = bufalo O' = tu Sarani = christão, baptisar Hallo = fazer Lai = não Sá = que Haten = saber Ida = um Oraçáo = doutrina Sá ida? = que cousa? Lahu = andar, caminhar Hamnassa = vir Mai = vir Nú = assim Iha = ter (tambem significa = em) adverbio de logar Nu sá? = porque? Iha né-e = aquiBá = ir Taca = cobrirullum = cabeça } chapéu Né-ebá = acoláHodi = trazer Fahi = porconan = mãi } porca Tau = por, collocar Cabum = barriga surat = papel, livro Cabuc = prenhe Saran = dentro ôna = já (signal de preterito) Sahe = subir Dada = conduzir, arrastar Tó = até (adv. de logar) Queta = não é bom. Uma = casa.